VAI MAIS EM BAIXO
Para quem não conhece a história de Mota Coqueiro, ele foi o
último homem condenado à pena de morte no Brasil, em março de 1855 na
minha cidade em Macaé, só para vocês entenderam os fatos que aqui serão
contados, farei um breve resumo da história de Mota Coqueiro; Mota
Coqueiro foi um grande fazendeiro com propriedades na região de
Conceição de Macabu que na época ainda era parte da cidade de Macaé no
Estado do Rio de Janeiro.Um homem muito influente, de grandes negócios
na região, mas de temperamento muito rude, era muito temido pela sua
valentia, arrogância e pela forma cruel que tratava seus escravos. Certa
feita, fechou a compra de uma grande propriedade em parceria com um
meeiro que levou sua família para morar na propriedade. Passado algum
tempo, a filha mais nova desse colono apareceu grávida e culpou Mota
Coqueiro de ser o pai da criança. Após a descoberta, o colono começa a
pressionar Mota Coqueiro a beneficiá-lo nos negócios da fazenda em prol
da gravidez de sua filha.Poucos dias depois, toda a família de colonos é
assassinada a golpes da facão, exceto a filha que estava grávida que
fugiu pela mata. No total foram mortos o meeiro, a sua esposa, três
filhos adolescentes e três crianças, sendo a mais nova com 3 anos de
idade. Depois do assassinato, a casa ainda teria sido incendiada, mas a
chuva não deixou o fogo consumir os corpos totalmente, o que causou um
cenário aterrador para o Brasil-colônia da época.Após investigações
precárias da época, Mota Coqueiro foi acusado de ter sido o mandante do
crime.Como Mota Coqueiro, já tinha uma má fama na cidade pelo seu
caráter e possuía muitos desafetos, as investigações do crime na época
foram feitas de maneira parcial e pouco claras. Na época, pela
Constituição vigente, o Imperador que era D.Pedro II, poderia conceder a
Graça Imperial para aboná-lo da pena de morte, mas o caso foi tão
chocante para a época que nem D.Pedro aliviou a barra pra Mota Coqueiro.
E em 6 de março de 1855, Mota Coqueiro foi enforcado em praça pública
na cidade de Macaé. Poucos anos mais tarde, descobriu-se através de
evidências escondidas na época que Mota Coqueiro era inocente e tivera
sido enforcado sem culpa.
Só a título de curiosidade, depois de
saber que Mota Coqueiro fora condenado inocente, o Imperador Dom Pedro
II, extinguiu a pena de morte no BRasil.
Mas o que há de
sobrenatural nessa história? Vejamos:O primeiro fato que se tem notícia
que torna a história misteriosa, é da esposa de Mota Coqueiro Úrsula das
Virgens, que durante o processo de investigação e julgamento ficou
louca.Ela morava com o esposo e filhos na Casa Grande da principal
fazenda e as escravas que cuidavam da casa, começaram a testemunhar
ataques de loucura da mulher que gritava e se escondia pelos cômodos da
casa dizendo que ouviam gritos e choros de criança a perseguindo por
onde quer que fosse. Os ataques intensificaram depois da execução do
esposo, que culminou em seu suicídio em um ano após a morte de Mota
Coqueiro.Outro fato marcante foi a maldição lançada na cidade pelo
acusado; Antes da execução, o juiz de direito da Comarca de Cabo Frio
que ordenava o julgamento, antes que subisse ao patíbulo, lhe concedeu
direito ao último pedido antes da morte:Mota Coqueiro nada pediu, mas
antes de morrer suas últimas palavras demonstravam um caráter do qual
ele nunca mostrou durante sua vida, perdoando à todos pela injustiça que
lhe haviam feito. De acordo com os registros da época, disse ele:"O
crime fez-se, porém eu sou inocente; peço perdão ao povo e à justiça,
assim como eu perdôo de todo o meu coração".Mas, apesar do ato de
misericórdia em perdoar os que lhe condenavam, proferiu uma maldição
sobre a cidade de Macaé. Suas últimas palavras foram:“ Esta cidade terá
100 anos de atraso pela injustiça que está sendo feita a mim".
E
de fato, foi o que houvera.Na época o porto de Imbetiba era o quinto
mais movimentado do país, pois era portão de entrada e saída dos
produtos agrícolas que eram exportados para outras cidades e capitais.
Com a inauguração posterior da estrada de ferro Macaé x Campos, o porto
perdeu a importância. Até mesmo o carro-chefe da economia local da época
que era baseada no cultivo do café e da cana-de-açúcar entrou em
profundo declínio. Muitos fazendeiros perderam tudo, pragas e mau tempo
constantes destruíram plantações e gado. Em pouco tempo, a prosperidade
que se via, foi por agua a baixo fazendo com que boa parte da população
migrasse para as capitais, deixando Macaé apenas uma colônia de
pescadores e de gente falida.Somente na década de 1960, quase 100 anos
depois da execução de Mota Coqueiro, que foi descoberto o petróleo que
alavancou a economia da cidade em poucos anos, fazendo hoje da pequena
cidade do interior, a capital nacional do Petróleo. Os mais antigos da
cidade, descendentes dos que viveram o período da “maldição” agregam
veementemente que a era do Petróleo só aconteceu após o término dos 100
anos amaldiçoado por Mota Coqueiro. Coincidência??
Outro fato
interessante que quero deixar aqui, foi presenciado por mim, por isso
posso assegurar que lhes digo a verdade.O local onde era a praça que
Mota Coqueiro foi executado, hoje é dentro do pátio de uma das escolas
mais antigas da cidade, o colégio Luiz Reid.O pátio muito grande por
sinal, abrange um quarteirão inteiro, bem no centro da cidade. No exato
local onde na época foi posto o patíbulo, há um memórial de pedra no
chão até os dias de hoje com o nome completo de Mota Coqueiro, data de
nascimento e data da execução.Como eu estudei muitos anos nesse colégio,
cresci ouvindo histórias e lendas escolares acerca daquele memorial no
pátio. Mas só fui constatar algo relevante de fato, alguns anos mais
tarde, quando já era adulta e estudava no 3º período (a noite), e vi que
muitas das lendas e histórias que ouvia quando criança, poderiam ter
algum fundo de verdade.Certa feita, durante um período que o colégio
passava por uma má admininstraçao, certas partes do mato do patio
estavam muito altos, pois já havia tempo que não eram cortados. Mas ao
invés de mandarem aparar a grama, acharam mais barato queimar o mato, e
assim atearam fogo na grama numa noite, já que não tinha o movimento de
criança correndo pra lá e pra cá. Depois de apagadas as chamas, foram
ver que somente a grama em volta do memorial de Mota Coqueiro estava
intacta. O que era impossível, pois o zelador confirmou que havia jogado
querosene naquele mesmo local. Eu vi. Uma cena realmente estranha. Em
toda volta podia-se ver o mato totalmente queimado, mas so ao redor do
memorial, a grama estava verde recém nascida, sem um chamuscado
sequer.Esse mesmo zelador (que mora num quartinho dentro do colégio)
conta que muitas vezes a noite, foi acordado com gritos no pátio. Ele
sempre saía para ver se era algum aluno escondido pra fumar maconha la
dentro, mas procurava, rodava, rodava e nao encontrava nada, nem
ninguém.Uma vez tentaram remover o memorial para duplicação da quadra
poliesportiva, eu já nao estava mais no colégio na época, mas fiquei
sabendo por amigos que continuaram lá que as obras nao foram pra frente.
Sempre que iam remover o memorial acontecia alguma coisa: Uma vez, foi a
britadeira que quebrou (nova), outra vez foi um dos operários que
quebrou o pé, mau tempo constante, falta de verba para dar andamento na
obra... enfim, acabou dando-se um jeito de reformar a quadra e manter o
memorial que esta lá intacto até os dias de hoje.Essas são algumas das
histórias que conheço acerca dessa surpreendente história de Mota
Coqueiro. Tão logo, haja novos fatos estarei compartilhando com voces.
Manuel da Mota Coqueiro Ilustração de jornal da época do julgamento